A Verdadeira Lição do Filho Pródigo: Amor e Misericórdia

A parábola do Filho Pródigo (Lc 15, 11-32) foi, infelizmente, muitas vezes utilizada como uma espécie de maldição por algumas famílias, uma ameaça para reprimir filhos que demonstrassem alguma rebeldia. Focando excessivamente na desgraça do filho mais novo e exaltando de maneira desmedida o comportamento obediente do filho mais velho, muita gente acabou perdendo de vista a verdadeira mensagem de amor e misericórdia que Cristo quis ensinar.

Vale ressaltar que “caridade” aqui não significa apenas ajudar ou ser gentil com alguém. Trata-se de um amor incondicional ao próximo, mesmo quando esse próximo se desviou do caminho certo. Afinal, amamos o pecador, não o pecado.

Existem também aqueles que se solidarizam com o filho mais velho da parábola, considerando-o injustiçado. Argumentam que ele sempre obedeceu fielmente ao pai, mas nunca recebeu recompensas ou celebrações. Em contraste, o filho mais novo, que gastou tudo irresponsavelmente, é recebido com festa. “Isso é injusto!”, dizem indignados.

Mas foi exatamente para corrigir esse tipo de visão equivocada que Cristo contou a parábola. Antes dela, havia narrado outras duas menores, sobre a ovelha perdida e a moeda perdida, justamente para responder aos fariseus que o criticavam por acolher e conviver com pecadores.

A verdadeira lição da parábola está no valor do arrependimento sincero. É esse arrependimento genuíno que abre caminho para o temor filial – obediência que nasce do amor, e não do medo. Quantas vidas não mudaram radicalmente rumo à santidade por causa de um arrependimento profundo? São Paulo e Santo Agostinho são belíssimos exemplos disso.

É importante lembrar também que nem sempre a “desgraça” se manifesta apenas através de miséria material ou prazeres carnais. Uma pessoa pode estar numa situação confortável, com todas as contas pagas, e ainda assim viver em profunda miséria espiritual, acreditando que a verdade é relativa e que a vida não tem propósito algum.

Por outro lado, o “sempre fiel” nem sempre obedece por amor genuíno ao Pai. Muitas vezes sua obediência é interesseira, motivada pelo desejo de manter uma vida tranquila e segura, evitando a punição. Esse comportamento revela o “temor servil” que Santo Tomás menciona na Suma Teológica – o medo do castigo ao invés do amor verdadeiro.

Além disso, é preciso alertar sobre a distorção perigosa dessa parábola para defender a integração irresponsável de criminosos na sociedade, colocando-os no mesmo nível de cidadãos que realmente buscam o bem comum, apesar de suas falhas. O cidadão comum erra tentando acertar, enquanto o criminoso age com intenção deliberada de subverter a ordem.

O filho mais velho não foi injustiçado. Na verdade, ele sempre teve acesso irrestrito ao amor do pai e aos bens da família, mas escolheu não desfrutar deles por medo da punição. Seu rancor e inveja revelaram uma falta de amor genuíno ao irmão, que havia se arrependido sinceramente e buscado reconciliação.

“Bancar o certinho” não garante mérito algum, pois todos somos falhos. A verdadeira questão está em reconhecer o esforço do outro, acolher seu arrependimento, e amar sinceramente o Pai, não por medo, mas por amor real.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima