
Após essa série de posts, pode-se concluir que Matrix possui um viés revolucionário e anticristão, apresentando uma perspectiva orientalista de eterno retorno e de permanência da impermanência e da imanência – com o perdão do trocadilho.
A trilogia nega a realidade tal como ela é, ao desconsiderar os sentidos e os pensamentos que surgem a partir deles. A dúvida sobre o que é real ou ilusório permeia a trama, criando uma sensação de incerteza constante, onde a verdade torna-se frágil como um castelo de cartas.
Essa dúvida acaba por entravar qualquer questionamento profundo, pois, sem uma base sólida, o raciocínio acaba antes de começar. A trilogia propaga também o pensamento revolucionário: a falta de valores fez com que a humanidade se iludisse antes mesmo de as máquinas transformarem as pessoas em fonte de energia. Sem um propósito elevado, não há nada a ser seguido, defendido ou conservado; tudo se dilui.
Curiosamente, o público não recebeu muito bem o segundo e o terceiro filmes. O quarto filme seria, então, uma tentativa de “retomar o rumo”. Não é bem assim: para entender o segundo filme, é necessário compreender todos os meandros do primeiro, assim como o terceiro exige uma compreensão ainda mais profunda dos anteriores.
Cada filme exige saltos filosóficos cada vez maiores, mas ao invés de trazer clareza, a trilogia parece fomentar a dúvida e o relativismo.
Ironicamente, o interesse em compreender a trilogia promoveu o aumento de estudos filosóficos, gerando o efeito reverso do esperado pelos criadores dos filmes. Em vez de nutrir e disseminar o pensamento revolucionário, uma onda antirrevolucionária começou a surgir e, desde então, busca evitar a consumação total da revolução vazia e sem propósito.
O quarto filme mostra-se como uma “máscara caída”: o que foi insinuado ao longo de três filmes, por meio de “easter eggs” e pistas, é agora exposto em um único filme resumidamente. Não uma libertação de um maquinismo aristotélico, mas uma escravização para uma revolução permanente.
Talvez a trilogia tenha focado seu ataque ao Cristianismo em um dos principais teólogos cristãos, Santo Tomás de Aquino – e por que não? Aquino harmonizou Razão e Fé de forma tão sólida que deve incomodar uma série de revolucionários; afinal, sua obra é tão sólida e coesa que é quase impossível rebater ou refutar.
E a ironia permanece: quanto mais a sociedade declina em revoluções, mais atenção é dada aos valores eternos cultivados no Medievo. Quanto mais a sociedade se afunda em revoluções sem fim, mais pessoas são levadas a olhar para trás, buscando a solidez dos valores eternos como um farol em meio à escuridão. Parafraseando Sertillanges, o tomismo é como fonte de água pura em meio ao lodaçal de relativismo.