A famosa Red Pill, que “abre os olhos para a realidade”, permitindo que a desconexão da Matrix, é amplamente apreciada, até por cristãos fervorosos, como símbolo de liberdade. Porém, algo importante parece ter passado despercebido: a referência ao Fruto Proibido.
Embora a base da trama do primeiro filme seja o Mito da Caverna de Platão, a trilogia está fortemente ligada a conceitos orientais, que veem a realidade como uma ilusão – uma abordagem divergente da apreensão da realidade através dos sentidos na filosofia ocidental.
Enquanto os prisioneiros na Caverna de Platão estão amarrados, Neo está ligado a tubos que mantêm seu corpo vivo. Semelhante ao Fruto Proibido, que a Serpente oferece a Eva prometendo conhecimento e poder, Morpheus oferece a Neo a Red Pill, dizendo que ela abrirá seus olhos para a verdade. Mas, assim como Eva ao “despertar”, Neo é confrontado com sua própria nudez.
A Red Pill, portanto, nada mais é do que a primeira desobediência a Deus em estilo cyberpunk. Em vez de libertar, ela aprisiona a pessoa em um deserto vazio e estéril, sem saída – uma nova prisão disfarçada de liberdade. E, paradoxalmente, esse símbolo de perdição se tornou, para muitos, um emblema de resistência contra uma mentalidade que destrói por destruir, sem criar nada em seu lugar.
Além do mais, o próprio conceito de Red Pill tornou-se um clichê, perdendo a força que tinha há vinte anos. Hoje em dia, surgiram outras “pílulas”, outros “remédios de libertação”, mas quem realmente liberta as pessoas, além de qualquer caverna ou ilusão, é o Pão Vivo que Desceu do Céu.