A sensação de nostalgia é uma prova de que nem sempre o que é atual é melhor que o antigo. O gosto de ter vivido experiências ultrapassadas pelo tempo gera um contraste com a atualidade dando uma sensação de decadência e distanciamento.
É porque nem sempre o “novo” é melhor que o “velho”, e hoje em dia parece ser sempre pior. A “atualização” acaba por ser recebida com aflição por aqueles que não se deixam levar pela propaganda, seja ela privada ou estatal.
Veja isso pela atual Base Nacional Comum Curricular (BNCC) brasileira, implantada há alguns anos com promessas de “modernização”. O excesso de recomendações impede que escolas e professores escolham melhores abordagens para os conteúdos propostos em sala de aula, prendendo-os a apostilas oficiais.
Além disso, a falta de flexibilidade nos currículos acaba por impedir que alunos e professores pensem livremente sobre os assuntos desenvolvidos, afetando o próprio processo de aquisição de conhecimento e desenvolvimento intelectual.
No entanto, a imposição da atual BNCC foi tão incisiva que é praticamente impossível encontrar na internet brasileira metodologias de ensino desvinculadas – como se houvesse unanimidade em sua adoção, sem espaço para críticas. O que se vê é uma tentativa forçada de adaptações, tolhendo o ensino
Isso também prejudica demandas e culturas regionais em nome de uma “padronização nacional”, como em localidades remotas, com realidades distintas dos grandes centros urbanos. Deve-se levar em consideração que a escola é apenas uma parte da vida da pessoa, e que deve apenas servir de base para as escolhas futuras.
Essa supervalorização do que é atual em detrimento do que é antigo não ocorre apenas no Ensino, mas também em outras áreas da vida, fenômeno conhecido por “hipermodernização”. Atualizar-se deixa se ser um meio para tornar-se fim em si: o importante não é ter o melhor propriamente dito, mas o mais atual. Uma coisa pode até ser boa, mas se não for “atualizada” pode ser deixada de lado.
Isso é muito comum em equipamentos tecnológicos, como computadores e celulares. O fato de já possuírem mecanismos de “autodestruição” a partir de certo tempo de uso (a famosa obsolescência programada) já mostra que as coisas não podem mais durar para serem rapidamente substituídas.
Uma área na qual a hipermodernização está a gerar polêmica atualmente é o mercado de ciclismo, em especial aqui no Brasil. Basta olhar pelas ruas para perceber que a maior parte do uso de bicicletas é para atividades cotidianas, como trabalho e passeio. Contudo, os fabricantes de peças estão reduzindo e até parando de fabricar peças para esta demanda.
O motivo é a introdução maciça de peças voltadas para “performance”, um ciclismo “pseudo-atlético”, já que o ciclista no caso não participa de competições. São peças mais caras, de difícil manutenção e de necessidade constante de substituição, além de serem pouco versáteis em relação ao uso cotidiano.
Isso é vendido por fabricantes através de seus influencers como algo melhor por ser “atual”, apesar de caro, “descartável” e nada eficiente. Peças mais simples, mais versáteis e mais baratas, acabam sendo mais duráveis por forçarem menos os mecanismos da bicicleta em virtude da própria flexibilidade. O problema agora é que são “desatualizadas”…
O que certamente acontecerá é o surgimento de novos fabricantes de peças, que buscarão atender à demanda suprimida. No entanto, há o risco de estas novas peças não terem a mesma qualidade dos fabricantes tradicionais, forçando consumidores a adquirir produtos de menor durabilidade e aumentando os custos de manutenção desnecessariamente.
Interessante que G. K. Chesterton já comentava sobre algo semelhante na Inglaterra de princípios do século XX, com sua aristocracia “devoradora do futuro”, sempre ostentando modas e favorável a rupturas – até como uma forma de manutenção de seu poder.
No livro O que Há de Errado com o Mundo, Chesterton mostra a verdadeira utilidade das coisas simples, que acabam por se tornar complexas: um bastão de madeira, por exemplo, pode ser um apoio, uma arma, combustível para uma lareira, e por aí vai.
O oposto também se aplica: bens de luxo, com suas finalidades bem definidas, só podem ser utilizados para aquilo e nada mais. Como falamos das peças de bicicleta, uma bicicleta voltada para performance de corrida não serve para subir uma ladeira nem para carregar compras, e é muito ágil para aproveitar um passeio tranquilo…
A obsessão constante pelo novo acaba por sobrecarregar a vida, fazendo com que as pessoas corram atrás de fogos de artifício que logo se apagam, endividando-se e perdendo a noção do real valor das coisas. O melhor vem com o tempo? Sim. Aquilo que se mostra realmente bom ao longo do tempo e deixa um gosto de nostalgia quando deixado de lado.