
Segundo a PublishNews, os três livros mais vendidos no Brasil em abril de 2025 não foram romances, nem ensaios, nem biografias. Foram livros de colorir para adultos.
Numa lista sempre dominada por livros oferecendo soluções rápidas para problemas perenes, os livros de colorir tomaram o topo com uma vantagem avassaladora: enquanto o quarto colocado mal alcançou dez mil cópias vendidas, o primeiro vendeu mais de cinquenta mil.
À primeira vista, é até simpático. Colorir relaxa, distrai, alivia a ansiedade provocada pelas redes sociais e pela vida fragmentada. O toque da canetinha no papel, o cheiro do lápis de cor, o gesto despretensioso — tudo isso parece oferecer uma pausa. E não há mal nenhum nisso.
Contudo, esse novo pódio só mascara o sério problema do mercado editorial brasileiro. Deixe os primeiros colocados de agora e olhe para os primeiros colocados de antes, que são os atuais quarto colocados. Continuam os mesmos.
O mercado editorial brasileiro, que já vive encurralado entre monopólios gráficos e livrarias sufocadas, encontra aqui uma sobrevida. Mas que sobrevida é essa? Livros de colorir movimentam papelarias e atraem novos consumidores. Mas será que essas páginas silenciosas substituem a leitura que transforma?
Vivemos num país de analfabetos funcionais — e funcionais aqui não significa úteis, mas incapazes de ler criticamente o mundo. A literatura, que deveria cultivar imaginação e pensamento, vai sendo deixada de lado por produtos mais fáceis de vender, de consumir e de descartar.
A raiz do problema não está no mercado editorial, que apenas replica o que vende para não fechar as portas, mas na própria formação intelectual do brasileiro — que não entende o que lê e não consegue aprofundar-se em leituras mais maduras.
Ainda há a hipocrisia da condenação àqueles que compartilham livros digitais, enquanto sebos lucram sem repassar um centavo sequer aos autores — muitas vezes adquirindo bons exemplares de antigos donos por preços módicos e vendendo pelo valor de novos. Em um país onde o livro é praticamente um artigo de luxo.
Uma coisa é certa: se os livros de colorir são hoje o retrato do sucesso editorial, precisamos nos perguntar — com que cores estamos pintando o vazio da leitura?