Os Lusíadas e Dom Quixote, obras-primas da literatura portuguesa e espanhola, representam um diálogo fascinante entre a tradição e a ruptura. Neste ensaio, analisaremos como essas obras dialogam com o Passado, um buscando a continuidade e o outro a ruptura, oferecendo perspectivas únicas sobre a cultura de suas épocas.
Os Lusíadas: Continuidade e Tradição
Os Lusíadas, de Luís de Camões, retrata a viagem da frota de Vasco da Gama até Calicute, nas Índias, entrelaçando episódios históricos e mitológicos. Trata-se de uma jornada épica na qual os próprios deuses dividem opiniões sobre seu sucesso, chegando até a interferir na viagem.
Embora à primeira vista Os Lusíadas pareça referenciar apenas a Antiguidade Clássica, a obra também abrange o período medieval. A formação do Estado Português ocorre no final dessa época, durante o período da Reconquista.
Camões segue a tradição épica clássica, baseando-se tanto em epopeias gregas como a Ilíada e a Odisseia quanto em epopeias latinas como a Eneida de Virgílio. Além disso, a tradição cristã se faz presente em toda a obra, refletindo o pensamento cristão medieval, que harmonizou de forma única o pensamento clássico ao cristão.
Dom Quixote: Ruptura e Crítica
Por outro lado, Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, conta a história de um homem que enlouqueceu devido ao vício em novelas de cavalaria medieval, saindo pelo país em busca de feitos heroicos cavaleirescos, a fim de se tornar digno de sua dama. Após diversas desventuras, retorna para casa, onde recupera a sanidade momentos antes de falecer.
Cervantes rompe com essa continuidade ao criticar a tradição cristã medieval de heroísmo, considerando-a incompatível com o pensamento antigo. Essa crítica é parte do contexto histórico de sua época, que questionava a prevalência da cultura cristã sobre outros aspectos da sociedade.
Essa crítica é bem retratada nas distorções de realidade que Dom Quixote faz ao enfrentar moinhos de vento e encarar um leão. Sancho Pança, um homem simples e paciente, torna-se como elo entre Dom Quixote e a realidade. Mesmo o sonho do escudeiro era mais plausível do que o do cavaleiro: ser senhor de uma ilha, administrando a justiça e a ordem.
Conclusão
Os Lusíadas de Dom Quixote, obras fantásticas que abordam uma tradição milenar de formas distintas, ressaltam o aspecto humano diante do atemporal. Seus personagens, ao lidar com o peso da tradição e da cultura de acordo com os seus próprios valores, nos oferecem lições valiosas para toda a vida.